Lutas - Conceito e Histórico

Lutas - Conceito e Histórico
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A utilização das lutas como conteúdo
das aulas de Educação Física

1.     Introdução
    A Educação Física que queremos é a de qualidade e como tal, a diversidade é um ponto fundamental para se conseguir esta finalidade. Na diversidade valoriza-se a dimensão das múltiplas leituras da realidade e a conseqüente ampliação das possibilidades de comunicação e relacionamento entre as pessoas. Tendo em vista este aspecto e obedecendo aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) no que refere à educação física que inclui as lutas e suas práticas nos conteúdos da educação física escolar, este artigo tem o propósito de esclarecer a real posição desta modalidade no contexto atual da educação física escolar.
    Como professor de educação física escolar há 14 anos, utilizamos a prática das lutas como mais um meio de atingir os objetivos gerais da educação física. Continuamos a utilizar, contudo, os esportes com bola, as ginásticas, o atletismo, a dança, os jogos e brincadeiras, enfim, todos os conteúdos que os profissionais da área estão acostumados, mas temos recorrido também às atividades de lutas. Não estamos aqui nos referindo somente as modalidades de lutas tradicionais (judô, karate, kung fu, etc.), mas também a prática da luta informal.
    Lecionamos a disciplina de educação física desde a educação infantil até o ensino médio e podemos comprovar que as lutas são sucesso em todos estes níveis. Na educação infantil, as lutas de animais (luta de sapo, luta do jacaré, etc.) ou a luta do saci tem ajudado muito na liberação de agressividade das crianças, além de serem trabalhadas nestas atividades todos os fatores psicomotores. No ensino fundamental, lutas que requerem um maior esforço trazem excelentes respostas, como a luta do “empurra e puxa” ou o “uga-uga” (tirar o colega de dentro do círculo central). No ensino médio fazemos um resgate histórico das modalidades, ligamos com a ética e os valores, as modalidades começam a ser exploradas de uma maneira mais profunda, levando ao conhecimento do tema.
    Acreditamos que as lutas devem servir como instrumento de auxílio pedagógico ao profissional de educação física; o ato de lutar deve ser incluído dentro do contexto histórico-sócio-cultural do homem, pois o ser humano luta desde a pré-história pela sua sobrevivência.
    Concordamos com Daolio (2004: 2) quando sustenta a idéia de que a cultura é o principal conceito para a educação física, porque todas as manifestações corporais humanas são geradas na dinâmica cultural, desde os primórdios da evolução até hoje. Consideramos a luta uma forma de cultura e assim compactuamos com o referido autor. Ainda citando Daolio:
    O profissional de educação física não atua sobre o corpo ou com o movimento em si, não trabalha com o esporte em si, não lida com a ginástica em si. Ele trata do ser humano nas suas manifestações culturais relacionadas ao corpo e ao movimento humanos, historicamente definidas como jogo, esporte, dança, luta e ginástica (2004: 2).
    Como estudioso da cultura, considerando a educação física como disciplina escolar e a escola como espaço e tempo de desenvolver a cultura, entendo como tarefa precípua da área garantir ao aluno a apreensão de conteúdos culturais, no caso, relacionados à dimensão corporal: jogo, ginástica, esporte, dança, luta (2004: 21).
    No ensino superior pudemos constatar, ao assumir uma turma de licenciatura em educação física de uma determinada universidade, a preocupação dos alunos em como utilizar o conteúdo da disciplina nas aulas de educação física escolar. No início chegamos a ouvir de uma aluna: “Mais uma disciplina descartável!”. Aquilo nos deixou profundamente angustiados. Como então levar as lutas para a escola? Como um aluno de graduação poderia aprender Judô ou Karate em 6 meses e repassar isto na escola?
    Pensando no assunto, refizemos o programa da disciplina (com a autorização do coordenador) e procuramos trabalhar além do que estava na ementa (no caso, a disciplina era divida apenas em karate e judô). Resolvemos então trabalhar a luta de forma lúdica, mostrar que a luta pode ser um recurso a mais na educação física escolar. Apesar de ser faixa preta de karate, sinceramente não acreditamos que seja possível um aluno de faculdade aprender a arte do karate em um semestre.
    Portanto, através do exposto, algumas questões emergiram sobre a prática das lutas na aula de educação física escolar, entre elas: os professores de educação física conhecem e aplicam os PCN’s? Utilizam a prática das lutas em suas aulas? De que forma? Quais as estratégias utilizadas para a utilização das lutas? O que pensam sobre as lutas na escola?
    Assim, tentaremos compreender a realidade dos professores de educação física, ao que se refere à utilização das lutas como um dos blocos de conteúdo proposto pelos PCN’s.
2.     Lutas
    Existem muitas definições sobre o que seriam as lutas, corroboramos com a definição proposta nos PCN’s - Educação Física:
    As lutas são disputas em que os oponentes devem ser subjugados, com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa. Caracterizam-se por uma regulamentação específica a fim de punir atitudes de violência e deslealdade. Podem ser citados exemplos de luta as brincadeiras de cabo de guerra e braço de ferro até as práticas mais complexas da capoeira, do judô e do karate (BRASIL, 1998: 70).
    Histórias sobre lutadores são transmitidas de gerações à gerações. Até textos bíblicos já comentam pelejas entre oponentes. Segundo Reid e Croucher (2003: 21):
    Desde as épocas antigas temos registro de lutas a dois. A história de Davi, que matou Golias com uma pedra atirada por uma funda, é uma das descrições mais detalhadas (...) com sua arma simples, Davi foi capaz de obter uma precisão comparada à de um samurai quando dá um golpe com sua espada (...).
    A origem das lutas e artes marciais continua uma incógnita. Os gregos tinham uma forma de lutar conhecida como pancrácio, modalidade presente nos primeiros jogos olímpicos da era antiga. Os gladiadores romanos, já naquela época faziam o uso de técnicas de luta a dois. Na Índia e na China surgiram os primeiros indícios de formas organizadas de combate.
    A história das formas de luta, combate ou arte marcial é um processo muito difícil. Poucos fatos são verdadeiramente conhecidos, pois os antigos mestres não repassavam seus conhecimentos facilmente, além disso, não existem registros documentados, as tradições eram passadas de forma oral, de mestre para discípulo.
    De acordo com Alves Jr. (2001):
    Na história da humanidade quando levamos em consideração o estágio já urbano, ao se fazer uma breve gênese das lutas, observamos que não foram poucos os registros encontrados nas mais diversas civilizações. Remontando entre os anos 3000 e 1500 AC, os Sumerianos deixaram imagens de três duplas de lutadores representando diversas fases de uma luta, com características que D. Palmer e M. Howell (APUD: BLANCHARD, CHELSKA, op. cit) consideraram como sendo, “uma das provas mais antigas” do que hoje entenderíamos como atividade de luta. Outras evidências de práticas de lutas também foram encontradas em outras culturas, através dos desenhos encontrados dentro da tumba egípcia de Beni Hassan (HENARES, 2000) e também em Creta, por volta de 2000 AC (BLANCHARD , CHESKA, op. cit).
    Algumas informações nos levam a crer que os sistemas de lutas chegaram à China e a Índia no século V a.C., através do comércio marítimo.
    Muitos artistas marciais consideram a China como o berço desta cultura, ainda nos referindo a Reid e Croucher (2003: 26):
    (...) um monge indiano chamado Bodhidharma chegou certo dia ao templo e mosteiro de Songshan Shaolin, na China, onde passou a ensinar um tipo novo e mais direto de Budismo, que envolvia longos períodos de estática (...) para ajudá-los a agüentar as longas horas de meditação, ensinou-lhes técnicas de respiração e exercícios para desenvolver a força e a capacidade de defender-se na remota e montanhosa região onde residiam.
    A filosofia do budismo influenciou profundamente os sistemas de lutas de todo o oriente, principalmente a China, Coréia, Japão, Índia e os países do Sudeste Asiático. Assim as técnicas de luta se proliferaram pelo oriente.
    Deve ser ressaltado que neste período surgem os lutadores sábios e suas estratégias militares, são exemplos Sun Tzu, um general de guerra chinês e Miyamoto Musashi, o mais famoso dos samurais do antigo Japão. Ambos escreveram clássicos da arte da guerra. Estes clássicos são utilizados até os dias de hoje por empresários e empreendedores. Segundo Sugai (2004: 17):
    É interessante destacar também que esses clássicos, exaustivamente interpretados ao longo dos séculos, têm sido considerados muito mais pelo prisma da lógica, das suas possibilidades bélicas ou estratégicas. Todavia, em um momento de tantas transformações por que passamos, de quebra de valores essenciais, da procura do sentido da vida, é mais que oportuno ressaltar os propósitos mais elevados desses dois guerreiros: por meio da a arte que escolheram, eles conseguiram chegar até o máximo de compreensão da alma humana para alcançar, à semelhança da natureza, a perfeição da arte de existir.
    Conforme atesta Kishikawa (2004: 28), os livros de Sun Tzu, A Arte da Guerra, e de Musashi, O livro dos Cinco Anéis, foram adotados como leitura obrigatória na Escola de Administração de Empresas da Universidade de Harvard.
    Após o século XIV, os europeus começaram suas expansões e descobertas de territórios. Neste período tiveram contato com a cultura e com os povos destes países. Somente em 1900 dois ou três ingleses e outros tantos norte-americanos começaram a aprender judô e outras artes marciais japonesas. Após 1945, os nortes americanos que estavam em serviço no Japão disseminaram as lutas do oriente no mundo ocidental (REID e CROUCHER, 2003: 41).
    Alguns lutadores possuem uma visão filosófica do que vem a ser uma luta, como afirma Lee (2003: 23): o objetivo da arte é projetar uma visão interior para o mundo; declarar, em uma criação estética, o espírito mais íntimo e as experiências pessoais de um ser humano.
    Na atualidade existem inúmeros sistemas de luta no mundo. As chamadas artes orientais como: Kung Fu, Tai-Chi-Chuan, Karate, Judô, Jiu-jitsu, Aikido, Tae-Kwon-Do, Jet-Kune-Do, Kendo, entre outras. Também existem aquelas consideradas ocidentais como: o boxe, a esgrima, o Kick-Boxe, etc.
    Nos jogos olímpicos estão presentes o Judô, o Tae-Kwon-Do, a Esgrima, o Arco e flecha, o Boxe, a Luta livre e a Luta greco-romana. O Karate, que há muito pleiteia uma vaga nos jogos, já é considerado esporte olímpico, participando efetivamente do circuito promovido pelo Comitê Olímpico Internacional, como os Jogos Pan-Americanos, Sul-Americano, Asiático e Europeu.
    No Brasil, a educação física deve resgatar a capoeira como parte da manifestação cultura dos negros no período escravocrata. Esta modalidade de luta envolve dança, musica e gestual carregado de historicidade.
    Também não deve ser esquecido o Brazilian Jiu-jitsu (derivado do Jiu-jitsu japonês, mas muito modificado pela família Gracie), hoje considerado um esporte genuinamente tupiniquim.
    A disciplina de educação física também tem a responsabilidade de não deixar que os grandes nomes de nossos esportes de luta sejam esquecidos, nomes como Aurélio Miguel, Rogério Sampaio, Eder Jofre, Maguila, Acelino Popó Freitas, Família Gracie, entre tantos outros.
3.     As lutas na Educação Física escolar
    A prática da luta nas aulas de educação física deve ser considerada, pois está inclusa no bloco de conteúdos da disciplina, exposto nos PCN’s:
    Os conteúdos estão organizados em três blocos, que deverão ser desenvolvidos ao longo de todo o ensino fundamental. A distribuição e o desenvolvimento dos conteúdos estão relacionados com o projeto pedagógico de cada escola e a especificidade de cada grupo... assim, não se trata de uma estrutura estática ou inflexível, mas sim de uma forma de organizar o conjunto de conhecimentos abordados, segundo enfoques que podem ser dados: esportes, jogos lutas e ginástica; atividades rítmicas e corporais e conhecimentos sobre o corpo (BRASIL, 1988:67).
    Esta prática pode trazer inúmeros benefícios ao usuário, dentre eles destacamos o desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo-social.
    No aspecto motor, observamos a lateralidade, o controle do tônus muscular, o equilíbrio, a coordenação global, o equilíbrio, a idéia de tempo e espaço e a noção de corpo. No aspecto cognitivo, as lutas favorecem a percepção, o raciocínio, a formulação de estratégias e a atenção. Ao que se refere ao aspecto afetivo e social, podemos observar em nossos alunos alguns aspectos importantes como a reação a determinadas atitudes, à posturas sociais, a socialização, a perseverança, o respeito e a determinação.
    Ao falarmos de lutas como um conteúdo da educação física algumas pessoas podem pensar que nos referimos a uma das tendências da disciplina: a educação física militarista. Lembramos que a educação física militarista possui como objetivo a obtenção de uma juventude capaz de suportar o combate, a luta, a guerra (GHIRALDELLI, 1997: 18). Esta tendência da educação física teve seu apogeu durante o período nazi-fascista em que as ditaduras da Europa atravessam nos anos 30-40. Nossa intenção aqui, não é a de promover alunos-soldado, nem muito menos prepará-los para a guerra (idéia contraria a qualidade de vida, objetivo primordial da educação física). Pretendemos oferecer as lutas na escola, com o objetivo de proporcionar diversidade cultural e amplitude de atividades corporais.
    Outra vez nos reportando a Alves Jr (2001):
    a Educação Física passa a ser uma disciplina que vai tratar pedagogicamente de uma área de conhecimento denominada de ‘cultura corporal’, configurada na forma de temas ou de atividades corporais. Devemos ter consciência que a atividade física das lutas não é nem nociva nem virtuosa em si, ela transforma-se segundo o contexto. A luta na universidade na escola ou em qualquer outro local, torna-se no que dela a fazemos, e a competição, acrescentaríamos, não é uma imposição deste esporte. Pierre Parlebas (1990) lembra que as lutas em geral são atividades esportivas com uma oposição presente, imediata, e que é o objeto da ação, existe uma situação de enfrentamento codificado com o corpo do oponente. Desta forma mais do que lutar contra o outro, a educação física escolar deve ensinar a lutar com o outro, estimulando os alunos a aprenderem através da problematização dos conteúdos e da própria curiosidade dos alunos.
    É inquestionável o poder de fascinação que as lutas provocam nos alunos. Nos dias atuais, constatamos que o tema está em moda, seja em desenhos animados, em filmes ou em academias. Não é difícil encontrar crianças brincando de luta nos intervalos das aulas, colecionando figurinhas dos heróis que lutam em seus desenhos animados. Os adolescentes compram revistas que se referem ao tema, livros de técnicas de luta e matriculam-se em academias para realizar a prática da luta.
    Portanto consideramos a idéia de que as lutas devem fazer parte dos conteúdos a serem ministradas nas aulas de educação física, seja na educação infantil, ensino fundamental ou médio.
    Lembramos que as lutas não são somente as técnicas sistematizadas como karate e judô. O braço de ferro, o cabo de guerra, técnicas recreativas de empurrar, puxar, deslocar o parceiro do local, lutas representativas como a luta do sapo (alunos agachados, um tentando derrubar o outro), a luta do saci (alunos de mãos dadas, somente com um pé no chão, vão tentar provocar o desequilíbrio do parceiro, forçando o colega a tocar com o pé que estava elevado no chão), são apenas alguns exemplos de como se trabalhar as lutas de forma estimulante e desafiadora na aula de educação física.
    Outras maneiras seriam levar à escola especialistas para promoção de palestras, mini cursos e demonstrações específicas. Também poderíamos levar os alunos a visitas em academias de lutas, assistir a filmes e documentários ou ainda promover pesquisas sobre o tema.
    Não podemos esquecer que no ensino médio a filosofia das lutas, a prática competitiva das modalidades e o estudo dos clássicos de Sun Tzu e Miyamoto Musashi, já citados, poderiam motivar e afirmar o sentido das lutas como conteúdo.
    Além disso, conforme a revista do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF, 2002: 4):
    a prática da luta, em sua iniciação esportiva, apresenta valores que contribuem para o desenvolvimento pleno do cidadão. Identificado por médicos, psicólogos e outros profissionais, por sua natureza histórica apresentam um grande acervo cultural. Além disso, analisada pela perspectiva da expressão corporal, seus movimentos resgatam princípios inerentes ao próprio sentido e papel da educação física na sociedade atual, ou seja, a promoção da saúde.
    Segundo os PCN’s (BRASIL, 1988: 96) os objetivos da prática das lutas na escola, são:
    a compreensão por parte do educando do ato de lutar (por que lutar, com quem lutar, contra quem ou contra o que lutar; a compreensão e vivência de lutas no contexto escolar (lutas X violência; vivência de momentos para a apreciação e reflexão sobre as lutas e a mídia; análise dos dados da realidade positiva das relações positivas e negativas com relação a prática das lutas e a violência na adolescência (luta como defesa pessoal e não para “arrumar briga”).
    Já a construção do gesto nas lutas, ainda sobre o prisma dos PCN’s (BRASIL, 1998: 97) requer:
    a vivência de situações que envolvam perceber, relacionar e desenvolver as capacidades físicas e habilidades motoras presentes nas lutas praticadas na atualidade; vivência de situações em que seja necessário compreender e utilizar as técnicas para a resoluções de problemas em situações de luta (técnica e tática individual aplicads aos fundamentos de ataque e defesa); vivência de atividades que envolvam as lutas, dentro do contexto escolar, de forma recreativa e competitiva.
    Através destes objetivos os conteúdos ministrados na aula de educação física devem procurar atender ao desenvolvimento do aluno no que se refere aos aspectos histórico-sociais das lutas.
4.     Metodologia
    Utilizamos uma abordagem quantitativa, onde aplicamos um questionário fechado (em anexo) a cinqüenta professores de educação física, de ambos os sexos, profissionais estes que atuam na rede pública e particular das escolas de Fortaleza, estado do ceará, Brasil..
    Estes professores ministravam aulas nos níveis de educação física infantil (20%), ensino fundamental (30%) e ensino médio (50%).
Gráfico 1. Amostragem (Professores por nível de ensino)

    Como critério de inclusão utilizamos o fato deste professores estarem atuando apenas na área da educação física escolar e estarem vinculados ao local de trabalho. Excluímos os professores que ainda não estivessem formados.
    A pesquisa foi realizada na cidade de Fortaleza, no período de fevereiro à maio de 2005.
5.     Resultados e discussão
    Através dos questionários aplicados aos 50 professores chegamos aos seguintes resultados da guia investigativa:
    Dos 50 professores questionados, 16 (32%) afirmaram que utilizavam as práticas das lutas em suas aulas e 34 (68%) relataram que jamais recorreram às aulas com estes conteúdos.
    Através da resposta acima observamos que a grande maioria deixa de utilizar um dos conteúdos propostos nos PCN’s, que são as lutas. Preferem manter a velha pedagogia da bola em suas aulas, pouco inovando ou experimentando novas formas de ministrar suas aulas.
    Os que ofereceram respostas positivas (16 - 32%) reforçaram que ministravam estas aulas: com vídeo (8 - 50%), com ajuda de especialistas (5 - 31,25%), através de práticas lúdicas (2 - 12,5%), e, aula de campo (1 - 6,25%). Conforme esse dado, constatamos que, alguns profissionais utilizam a criatividade e, com este fator, incluem em suas aulas as práticas das lutas. É verdade que o auxílio do vídeo é a maneira de transmissão deste conteúdo mais utilizada, seguida da participação de convidados para ministrarem palestras, aulas e oficinas envolvendo o tema (ver gráfico 2).
Gráfico 2. Recursos utilizados pelos professores para ministrar o conteúdo de lutas

    Porém, somente uma pequena parcela utiliza as lutas de forma lúdica. Pensamos ser esta a forma melhor de trabalharmos lutas na escola. Brincar de luta desenvolve os fatores físicos e ao mesmo tempo exige um grande esforço cognitivo (formulação de estratégias). O fator afetivo e social também é exaltado, podemos observar que os alunos desenvolvem a auto-estima, o autocontrole e a determinação.
    Os que responderam negativamente (34 - 68%) afirmaram que o motivo de não utilizarem as práticas das lutas foram (gráfico 3): que não tinham instrução para lecionar tal atividade (14 - 41,17%), a escola não oferecia condições estruturais para a realização das práticas de lutas (8 - 23,52%), achavam que o conteúdo de lutas era inadequado para o ambiente escolar (6 - 17,64%), não havia especialistas disponíveis para receber ajuda sobre o tema (6 - 17,64%).
Gráfico 3. Motivo da não utilização das lutas nas aulas de Educação Física

    No tópico acima, fica bem claro que existem dificuldades para a prática das lutas na escola, porém estes obstáculos não devem ser barreiras intransponíveis. Se o professor não tem instrução para lecionar lutas, o mesmo deve procurar cursos de capacitação, trocar experiências com os colegas ou recorrer ao vídeo e à ajuda de especialistas. Se a escola não oferece condições físicas e materiais o professor deve utilizar a improvisação, realizando suas atividades na própria sala de aula (tendo o cuidado com a preparação do espaço) ou oferecendo aos alunos uma aula de campo (visita a academias, por exemplo).
    Mas o que mais nos chamou a atenção foi o número de professores que afirmaram que o conteúdo de lutas era inadequado ao contexto escolar. Fica exposto através desta posição um recuo do desenvolvimento da educação física diversificada. Se estivermos acostumados a prática da educação física tradicional, onde imperam atividades como o rachão e a antiga ginástica, precisamos romper este paradigma! Nossa disciplina necessita de novas formas, novos conteúdos como os direcionados pelos PCN’s, entre eles a luta, a dança, o conhecimento do corpo, as atividades rítmicas e expressivas além dos esportes, jogos e brincadeiras.
    Dos 50 entrevistados, 32 (64%) consideraram que luta seriam somente as técnicas pré-existentes de combate, enquanto que 18 (36%) afirmaram que qualquer atividade em que dois oponentes se enfrentam pode ser um tipo de luta. Este resultado demonstra que a maioria dos nossos professores ainda não reconhece a luta diversificada. Para estes, somente técnicas de karate, judô, capoeira e outras modalidades são consideradas lutas. Atrvés disso, os alunos perdem a oportunidade de lutar, seja através de um simples cabo de guerra ou de um braço-de-ferro.
    Dos 50 envolvidos, quando perguntados sobre qual luta deveria ser praticada na escola, 8 (16%) acharam que nenhuma luta não devia ser trabalhada na escola pois gerava agressividade, 13 (26%) a Capoeira, 12 (24%) o Karate, 9 (18%) responderam o Judô, 4 (8%) o Tae-Kwon-do, 3 (6%) o Kung-fu, 1 (2%) o Jiu-Jitsu e apenas 2 (4%) responderam que a luta na escola deve ser lúdica, praticada através da brincadeira.
Gráfico 4. Qual modalidade de luta deve ser ensinada na escola?

    A resposta à pergunta acima nos mostra que a Capoeira (uma luta afro-brasileira), é a mais votada pelos envolvidos como modalidade a ser praticada na escola, seguida do karate (talvez pela influência da mídia - existem inúmeros desenhos e filmes de ação protagonizados por lutadores de karate). O resultado pouco expressivo atingido pela votação do Jiu-Jitsu (apenas um voto), nos traz a reflexão sobre o comportamento de alguns praticantes desta arte marcial.
    Quando questionados se era possível trabalhar as lutas na educação infantil, 38 (76%) professores alegaram que não, que esta seria uma prática realizada opor um especialista em uma academia própria para a prática, os outros 12 (24%) disseram que era possível sim, ou com ajuda de especialista (10 - 83,33%) ou de forma lúdica (2 - 16,66%). Neste quesito, os educadores físicos envolvidos expressaram, em grande parte, a divergência entre lutas e educação infantil. Outro engano, pois as lutas na educação infantil promovem o desenvolvimento integral.
    Perguntamos aos profissionais se a prática da luta geraria violência, 12 (24%) responderam que sim, 22 (44%) que não e 16 (32%) disseram que depende do professor.
    Também foi questionado se os alunos da educação física praticassem lutas nas aulas isso os tornaria mais agressivos, 12 (24%) responderam que sim, 25 (50%) que não e 13 (26%) que talvez.
6.     Reflexões conclusivas
    Através destes resultados podemos concluir que os PCN’s - Educação Física, devem ser revistos pelos profissionais da área, pois se alguns possuem conhecimento acerca deste material, poucos são os que o utilizam na prática.
    Pudemos constatar que a prática das lutas, parte dos blocos de conteúdos dos PCN’s, e, portanto, um dos conteúdos da educação física escolar, não vem sendo explorado.
    Se quisermos uma educação física diversificada, que não sucumba as eternas práticas de rachas com bola devemos cumprir o que se estabelece nos PCN’s, seja com as lutas ou a dança.
    Observamos que os profissionais necessitam de treinamento, capacitações e curso de reciclagem, pra a partir de então, incluir a prática das lutas em suas aulas. Também concluímos que alguns profissionais possuem uma visão deturpada do que sejam as lutas, relacionando-as com violência e agressividade, atitude oposta à educação física e a própria filosofia das lutas.
    Encerramos este artigo, sem concluí-lo totalmente, pois acreditamos que este tema deva ser abordado por outros educadores físicos, que na tentativa de acertar, contribuam para a discussão e venham somar com outras posições.

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